Tes·sel·late

segunda-feira, agosto 02, 2004

Prazer a conhecer.

É engraçado como o mundo é mundano, se me permitem o trocadilho. Neste exato momento estou eu aqui, sentado na porta do apartamento da "minha" namorada (justamente porquê o mesmo está vazio) e finalmente consigo parar por poucos minutos do ritmo agitado do mundo moderno que devora nossas vidas e mentes num instante desconhecido tirando nosso fôlego tal qual uma frase infinita sem vírgulas pontos ou pausas para se respirar e continua assim por muito e muito e muito temo até um ponto onde uma palavra se junta com outra sem fazer mais sentido mas faz e não entendemos e mesmo assim a frase continua sem e sem e sem e sem parar.

Mas este não é o ponto. É apenas a introdução. O ponto onde quero chegar é um pouco mais difícil de se achar do que o ponto G. Sim, porquê todo mundo pensa que é um desafortunado na vida quando ouve alguém falando que atingiu o que parece ser impossível: comprar um carro, ter uma casa própria, fazer aquela viagem internacional, alcançar o sucesso profissional (e ser reconhecido!), conquistar um lindo companheiro(a) e ter um monte de pimpolhos felizes e gordos.

Talvez tenhamos falado de coisas muito subjetivas até aqui. Para os outros 80% (talvez mais) da população brasileira, se sente desafortunado quem ouve (isso se já não for surdo...) alguém falando que conseguiu pagar a conta do telefone, matriculou o filho na escola pública, conseguiu comprar arroz para alimentar a família inteira, arranjou um canto quente onde dormir numa noite fria, teve a sorte de ganhar um pedaço de pão velho ou sobreviveu a um atropelamento sendo atendido pelo SUS.

Sendo um pouco mais egocêntrico, minha fortuna neste instante é fazer a maldita lâmpada deste corredor ficar acesa por mais de um minuto e dez segundos (nem me incomodo com o chão frio). Coisas da modernidade, sensor de presença só sente quem se mexe. E isso me leva a levantar os braços repetidamente a cada um minuto e dez segundos.

Ainda não chegamos ao ponto, mas evoluímos: somente quem se mexe acende a lâmpada. Ou, trocando em míudos, apenas quem corre atrás de realizar o que quer da vida que atinge seus objetivos. Não importa quais sejam (esta é a graça - e desgraça - do lívre-arbítrio). Existem dezenas ou centenas de livros de auto-ajuda disponíveis para quem se interessar mais por este assunto, portanto daremos prosseguimento ao raciocínio.

O chato do lívre-arbítrio é que nunca temos referências. Não estou falando de referências morais ou éticas - estas qualquer ser que viva em comunidade desenvolve. Não temos referências internas. Como chegamos a este mundo pelados, não temos meios de saber quando estaremos vestidos adequadamente. Esta é uma comparação absurda e fiel: você chega pelado a um lugar qualquer. Com muito esforço, consegue algumas vestimentas - mas roupa é um negócio raro! - e você demora anos para experimentar e se adaptar a uma, isso se conseguir comprar ou encontrar.

Façamos um exercício de imaginação. Compare cada peça de roupa com um sonho que desejamos realizar. Ter um carro, uma casa, um amor, ou até pagar a conta do telefone. Com este simples e rídiculo exercício pode-se compreender que realmente não temos referências internas. Quando conseguimos alguma roupa, não temos nenhum conhecimento se ela nos aquece o tanto que precisamos, se esta roupa dá o conforto que nossa alma busca, se esta roupa protege do frio.

O pior é que não adianta pedirmos a opinião dos outros. Como cada um veste uma roupa única e não podemos "trocá-las" neste mundo imaginado, nenhuma outra pessoa no mundo poderá nos dizer: "- O roupão que você veste é o certo para você. Da medida correta, te protegerá e confortará pela vida inteira.". E vivemos na agonia de ter pouco sem saber, e, devido à nossa ignorância, temos um medo constante de arriscar trocar este pouco por um outro pouco menor ainda. Uma troca que poderia nos salvar de morrer devido ao frio que faz lá fora, no mundo real.

Assim fecha-se o ponto desta discussão. Prazer sexual, sucesso profissional, realização emocional, boa situação monetária. De nada valem estes trapos que vestimos, se não temos como saber se eles nos protegerão do frio. E é isto que quero alcançar: conhecimento, sabedoria. É arranjar um short (mesmo que velho e surrado) e saber: "- Esta roupa foi feita para mim!". Não quero o excesso, a lúxuria, nem a glória ou a gula. Quero apenas a parte que me cabe dos prazeres da vida.

Quero o REAL prazer sexual, o REAL sucesso profissional, a REAL realização emocional, a REAL boa situação financeira. Apenas o que baste para me proteger do frio. Nada além da parte que me cabe neste latífundio.